É novela, mas tem fôlego de seriado

04-11-2009 00:33

RIO - Quando a história de Caras & Bocas, a novela das 7 da Globo, começou a ser apresentada, parecia que o mocinho e a mocinha, em jogo de gato e rato, levariam uns 200 capítulos para acertar os ponteiros. Mas foram necessários apenas dois meses para que Dafne (Flávia Alessandra) e Gabriel (Malvino Salvador) partissem para o "felizes para sempre" que, na trama de Walcyr Carrasco, definitivamente, não é sinônimo de calmaria – o casal de protagonistas já passou por todo tipo de provação, da pobreza à prisão, de suspeitas de infidelidade a caxumba.

 

Essa estrutura pouco comum em novelas é destaque entre os motivos que explicam o grande sucesso de Caras & Bocas, que desde a estreia, em abril, mantém índices em torno de 30 pontos no Ibope. Dias atrás, num feito de que não se tem notícia similar, um capítulo da novela das 7 alcançou mais audiência que o capítulo da mesma data da novela das 9: foram 36 pontos, ante 35 de Viver a Vida. É o melhor desempenho da Globo no horário desde Cobras & Lagartos, em 2006.

 

Em todos os núcleos e para todos os personagens, o autor cria histórias curtas, que começam e terminam em poucas semanas. Com isso, a novela fica com jeito de seriado, evita-se que as soluções sejam adiadas até o último capítulo, e fica mais fácil manter o interesse do público.

 

"Não foi exatamente uma decisão. Criei vários personagens fortes e à medida que fui escrevendo, a própria força de suas histórias foi exigindo espaço, o que resultou nessa estrutura", diz Walcyr ao Estado. O autor também cravou uma bacia de bordões na novela. "Escrevo intuitivamente, e a estrutura também surgiu assim."

Entre os personagens fortes, estão tipos carismáticos e funcionais como a dupla de adolescentes Bianca (Isabelle Drummond) e Felipe (Miguel Rômulo), e a vilã Judith (Débora Evelyn) e seu marido Pelópidas (Marcos Breda) que parecem ter saído de uma história em quadrinhos. Longe da caricatura, mas ainda com um quê de arquétipo, há o "bofe escândalo" Cássio (Marcos Pigossi), que forma casal improvável com Léa (Maria Zilda) – ele é gay, ela é perua; e os dois namoram. "A relação deles me surpreendeu pela aceitação do público, que se encantou pelo casal", observa Walcyr.

 

Os protagonistas, Dafne e Gabriel (leia entrevista com o ator Malvino Salvador ao lado), formam um casal engraçado, charmoso e com sex appeal na medida – o que merece nota, porque não anda muito fácil escalar mocinhos ultimamente. Mas se for para apontar a maior estrela da galeria de tipos de Caras & Bocas, não tem para mais ninguém: o macaco Xico é mesmo a maior diversão da novela.

 

Ex-pintor e agora fotógrafo, Xico foi ganhando espaço no folhetim à medida que Walcyr e o diretor Jorge Fernando criavam expertise na composição das cenas, complicadas de gravar. "Ele é surpreendente, porque realmente contracena com os atores, possibilitando criar cenas que, no início, eu supunha que teria limitações para escrever", conta o autor. "Mas então o Jorginho Fernando me ligou e disse: ‘Escreva o que quiser, que eu seguro’. E fui em frente. E a trama dele cresceu, tornou-se um dos eixos da novela."


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